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Percepção do próprio envelhecimento.

  • zenaidecriado
  • 23 de fev.
  • 3 min de leitura

Atualizado: 27 de mai.




''Estava sentado sózinho no meu compartimento do carro leito, quando devido a um violento solavanco do trem, mais violento do que o habitual, fez girar a porta do toalete anexo, e um homem de idade, de roupão e bone de viagem, entrou. Presumi que ao deixar o toalete que ficava entre os dois compartimentos, houvesse tomado a direção errada e entrado no meu compartimento por engano. Levantando-me com a intenção de fazer-lhes ver o equivoco, compreendi imediatamente, para espanto meu, que o intruso não era senão o meu próprio reflexo no espelho da porta aberta. Recordo-me ainda que antipatizei totalmente com a aparência" (Sigmund Freud, O estranho, 1919)


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A tomada de consciência do próprio envelhecimento ocorre muitas vezes por encontros com o mundo exterior. Estes encontros podem ser discretos ou particularmente intensos como ocorreu com Freud. Cada um vive estes episódios de forma muito particular.


Jacques Lacan ao descrever o estádio do espelho, afirma que a criança vem ao mundo com uma visão fragmentada do corpo, mas entre os primeiros seis a dezoitos meses de vida, ao ver-se refletida num espelho e através da identificação com a imagem do seu semelhante, se rejubila antecipando sua unidade corporal (Roudinesco, 1998). Já o adulto em processo de envelhecimento, se assusta, estranha, procura fugir desta imagem que ora não se reconhece.


Estes eventos, encontros, sinalizam um novo tempo, a vida jã não é como era, pelo menos na questão estética. Fora as questões estéticas, estes acontecimentos nos confrontam com a finitude, com o tempo cronológico já vivido. Faz-nos pensar no tempo que nos resta de vida.


Mas a decadência fisica, a finitude e a velhice são processos mais percebidos pelos outros do que pelo próprio sujeito que envelhece. Há sempre um descompasso entre o real do envelhecimento e a percepção interna deste envelhecimento. Quando encontramos com velhos amigos e os vemos envelhecidos, logo pensamos: se eles estão mais envelhecidos, provavelmente também estaremos. Outros momentos são as deficiências fisicas, as doenças que nos lembram de nossa idade.


Maud Mannoni (1995) escreve que "a velhice não tem nada a ver com a idade cronológica. Há velhos de vinte anos, como há jovem de 80 anos"


Se a idade cronológica e as alterações corporais não são suficientes para definir o que seja velhice, isto não que dizer que possamos passar ileso aos efeitos do envelhecimento. Há sim um processo doloroso, mas necessário de elaboração de lutos que pode resultar em saídas patológicas, entre elas, a depressão, como também saídas saudáveis através de meios sublimatórias.


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Neste processo de elaboração das perdas, há em primeiro lugar, uma luta interna, uma parada momentânea entre a constatação da perda atual, isto é, o que se é no presente, o que se foi no passado e o que se pode esperar, projetar para o futuro, e num segundo momento, irá buscar no exterior, possibilidade de dar sentido, de ressignificar estas perdas. Os recursos sociais e culturais vão ser muitos importantes nesta trajetória.


Goldfarb (1998) "o sujeito é produto de um encontro, de uma articulação entre interioridade e exterioridade, e esta não é apenas fundante de subjetividade, mas também o campo onde se encontram os objetos de sua satisfação"


Atualmente percebe-se uma mudança radical na experiência de envelhecimento nas mulheres, diferentemente de suas mães e avós, que não tingiam os cabelos, ficavam em casa. Muitas relatam sentirem-se mais livres das obrigações e controles, podem desfrutar de realizações antes proibidas.

Há também mulheres idosas que continuam a confiar em seus antigos, "encantos de mocinha", continuam a cuidar-se, adequam-se a esta fase e com a segurança da maturidade desenvolvem novos atributos de personalidade, que as tornam tão interessantes quanto na juventude. (Kastenbaum, 1979)









 
 

Psicóloga Zenaide Criado

CRP. 06/19455

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